Corações no espeto

O marido de uma amiga é chef de cozinha. É, portanto, um sujeito gastronomicamente curioso. Assim como eu fico salivando assim que ouço falar de um filme novo do Woody Allen, meu amigo saliva diante da menção de qualquer tipo de comida diferente. Isto posto, decidimos nos aventurar pela feira boliviana do Pari domingo passado. Para quem não é de São Paulo, o Pari é um bairro industrial, pouco aprazível, localizado nas imediações do terminal Rodoviário do Tietê. É o reduto dos imigrantes bolivianos (que são muitos) aqui nesta terra.
A feira é aquela coisa, né? Meia dúzia de barraquinhas com artesanato andino - e isso inclui calendários com montagens do Evo Morales com o Lula e o Che Guevara - , outras com produtos industrializados da região - entre elas cerveja boliviana Paceña e a popular Inca Cola, que é amarela cor de "vocês imaginem o quê" e sim, pertence à Coca-cola - e muitas, mas muitas barracas de comida.
A comida é um caso a parte. Andamos, andamos e, sinceramente, não tive coragem de comer. Em uma das barracas havia um cartaz alertando que tosse há mais de cinco dias pode ser tuberculose. A combinação empanadas + tuberculose não me pareceu apetitosa. Um dos pratos populares por lá é o anticucho:

Parece um inofensivo espetinho, não? Espere, pois a iguaria é feita de coração de boi. Nem meu amigo chef encarou. Enquanto eu, queridão e minha amiga optávamos pelas aparentemente seguras salteñas (deliciosas, por sinal), o chef pediu um fricase de porco. Apimentado e feio. Muito feio, feito com aquele milho gigante branco, uma batata preta bem esquisita e um caldinho ralo. Não deu vontade.

Imaginem isso servido numa cumbuca de isopor, num calor de trinta graus.

Lembrei de um professor meu, norueguês, contando da primeira vez que viu uma feijoada. Analisando friamente, uma feijoada não é assim, a coisa mais apetitosa do mundo de se olhar. É escura, de uma textura indefinida, e se bobear de repente você dá de cara com um pé ou uma orelha de porco surgindo daquela massa amorfa. Nham! Para nós, que encaramos feijoada a partir do momento que temos dentes pra isso, é a coisa mais natural do mundo. Para um gringo nem tanto. Acho que foi mais ou menos assim que eu me senti diante do fricase - não gostei da cara do negócio, não comi. Na verdade, arrisquei um teco da batata preta, que tem gosto de batata (jura?) com uma textura meio arenosa. Não é bom não. Mas nem é pior que uma almondega de soja, que eu como feliz da vida.
Pelo menos não tinha "My heart will go on" versão flautinha como trilha sonora. E a tal da cerveja Paceña, se estivesse gelada, aposto que seria boa.

Salteña: parece empanada argentina, mas a massa é mais grossa, e o recheio tem um caldinho.

A lendária Inca Kola - Não tinha gelada em barraquinha nenhuma, então não tomei. E eu li o rótulo - não é de abacaxi. Nem quero saber do que é.

Comentários

  1. Jura que não tomou a Inca Cola? Acho que eu compraria uma garrafinha e levava pra casa pra fazer uns drinks.

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