Histórias de carnaval

Tenho muitas. Carnaval pra mim sempre foi divertidíssimo, exceto por aqueles penumbrosos anos de pré adolescência nos quais eu já me achava velha para a matinê mas não podia ainda ir sozinha ao baile dos adultos. Sim, eu tive carnavais de baile - até os 18 anos passei TODOS na casa das minhas avós no interior ou em Santos. Foi num desses no interior, inclusive, que tomei meu primeiro porre.
Os avós de um amigo tinham se mudado e colocado a casa da cidade a venda. Desnecessário dizer que a casa vazia virou quartel general carnavalesco do povo que mais uma vez tinha sido arrastado pela família para o interior. Eu tinha uns dezoito anos e não gostava de beber. Tomava de vez em quando um martíni, que era docinho. Hoje não posso ver essa merda nem em taças de ouro. Cerveja eu não gostava, tomava um pouquinho e fazia careta. Era uma fresca. Quatro dias de churrasco, bebida o dia todo e baile a noite. Quatro dias aparecendo em casa só pra tomar banho, para desespero da minha mãe.
Molecada, né? Ninguém tinha dinheiro e, pra beber, não podia ficar pedindo aos pais. No segundo dia perceberam que a cerveja estava dando muita despesa e ninguém estava ficando bêbado (porque moleque bebe com essa única finalidade), então decidiram apelar - surgiu, não se sabe de onde, uma vodca Stefanoff que vinha em uma finíssima garrafa de plástico. Barata e letal, dessas que a gente cheira e tem vontade de limpar uma janela. Misturada com coca-cola, então, poderia ser considerada uma arma de destruição em massa. Meu fígado, hoje em dia, se visse uma dessas, provavelmente se rebelaria e se uniria ao resto do meu corpo para promover uma ressaca de proporções continentais. Mas aos dezoito anos a gente aguenta. Ou pensa que aguenta.
Eu bebi aquilo. Não me lembro quanto, obviamente não deve ter sido muito. O engraçado é que eu me lembro exatamente do momento em que tive consciência de que estava alcoolizada. O banheiro do andar de baixo estava vazando, então nós tínhamos que usar o banheiro de cima. Subi as escadas, fiz meu xixizinho e, na hora de descer, encarei os degraus e tive um insight: eu não ia conseguir. Me dei conta de que, pela primeira vez na vida, eu estava bêbada. Fiquei ali, sentada no topo da escada encarando o que, naquele momento, parecia o Everest. E ri. Ri muito, enquanto chamava minha irmã para me ajudar. Vejam bem, não é que eu não conseguia descer as escadas. Apenas fiquei paralisada diante da costatação de que tinha sido afetada pelo álcool.
Parou por aí. Pois é, a história do meu primeiro porre não conta com episódios de vergonha alheia extrema nem nada parecido. Ou melhor, conta. Naquela noite eu beijei o menino mais bonito de cidade e, horas depois, o irmão dele. Com a desculpa de "eu não moro aqui, eu não sabia." Mas eu sabia. Ah, se sabia.

Comentários

  1. Eu já degustei uma vodka chamada Akidov. Note que Akidov é Vodika ao contrário. Com I mesmo.

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