Bibelôs

Segunda feira fomos recebidas no colégio por um bilhete bem mal educado de página inteira, no qual uma mãe zelosa acusava as professoras de negligência pois seu querido filho voltara de um passeio da escola com o rosto vermelho.
Considerando que o garoto é branquinho e passou o dia todo em um clube nadando, correndo e suando debaixo de 30 graus, nem todo Sundown da nação aplicado a cada duas horas seria suficiente para evitar que ele voltasse para casa no mínimo corado. Mas claro que esse não foi o caso. Tratava-se, afinal de um bibelô frágil e desprotegido que passou o dia nas mãos de gente malvada que fez de tudo para que ele se queimasse bastante. Porque para certas mães é isso que nós somos: pessoas ruins, que gritam com seus anjinhos e maltratam os pobrezinhos diariamente. Nós perseguimos os pobrezinhos, damos notas baixas injustamente, enchemos os coitados de lição de casa, olha que absurdo! Escola que dá tarefa e manda estudar! Também não cuidamos das coisas deles, pois toda semana há pelo menos um bilhete dizendo que a escola perdeu um agasalho que o bebê de dez anos largou embaixo de um banco no pátio.

Criança precisa de cuidado, claro. Não é um saco de batata que você tira da cama, joga na perua e despeja na frente do colégio com cinco reais para o lanche (embora para outros pais seja assim que as coisas funcionam). O que incomoda é essa falta de fé no nosso trabalho, a confiança cega na bondade dos filhos e o zelo que chega num grau que beira a neurose. Já vi mãe inventar histórias de que o filho estava com problema urinário para que a professora deixasse ele ir ao banheiro toda hora.

Se tem algum pai ou mãe lendo isso aqui, eu rogo: confie na gente. Sabemos o que estamos fazendo. E por mais difícil que possa parecer, acredite - seu filho não é feito de cristal e, salvo grande fatalidade (toc toc toc), chegará quase sem arranhões à adolescência.

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