Cuidado comigo

O requisito básico para ser um bom turista é paciência, todo mundo sabe. Fazer turismo, pelo menos aquele tradicional, de visitar os pontos mais famosos, tirar fotos pra mostrar pra família, comprar porcarias pra deixar em qualquer canto depois, esse envolve muito saco pra aguentar filas, ingressos caros, guias malas, gente sem educação e funcionários despreparados. E eis que me encontrei mais uma vez numa barca dessas, tentando subir no Pão de Açúcar em plena Sexta-feira santa.

Começou com a fila de cerca de duas horas debaixo de um sol desértico, embalada por um grupo de turistas mineiros atrás de mim que contava com uma versão obesa da Sílvia Design. A fofa gritava o tempo todo o quanto o Rio é lindo e o quanto seus amigos eram maravilhosos por a levarem lá. Claro que a perspectiva de ficar dentro do bondinho, ainda que só por 3 minutos, com aquela criatura, já minou mais um pouco meu entusiasmo pelo passeio - felizmente ela pegou o próximo.

O passeio segue: sobe no bondinho, desce do bondinho. Tira fotos, vê os macaquinhos, acha graça nos gringos, sobe no bondinho, desce do bondinho. Na penúltima descida, entre o Pão de açúcar e o morro da Urca, consigo me instalar com meus amigos na janela pela primeira vez. Não que eu estivesse fazendo muita questão, aconteceu, tínhamos sido os primeiros a entrar, só isso. O bondinho lota e do nada surge uma velha nos acotovelando e berrando: "dá um espacinho, dá um espacinho!" Eu não dei espaço, tive o mesmo arrancado pela delicadeza da mulher. Nisso a neta dela já se enfia entre queridão e eu e a filha fica me encoxando e colocando o braço na minha frente pra tirar fotos. Como a última coisa que eu queria era arrumar um barraco em um lugar fechado com mais sessenta pessoas me resignei a fazer uma cara feia e me apoiar em queridão. A filha da velha então puxa a neta e eu a ouço gritando:

"Vem cá, Júlia, sai daí que você está atrapalhando a moça e ela esta fazendo um monte de caretas!"

Respirei fundo, não me mexi. Ainda deu tempo da louca completar:

"Olha só que cara de malvada!"

É isso. Se você é uma velha folgada ou uma mãe sem educação, é melhor ficar esperta. Eu sou malvada. Eu faço caretas. Cuidado comigo.

Comentários

  1. Primeiro: que raiva! Segundo: pare de fazer caretas e comece a xingar mesmo,pois um dia essa gentalha aprende e a gente não engole sapo.
    Obs.: essa coisa de xingar eu aprendi no metrô às seis da tarde.

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas