Nota de agradecimento

Aquele livro na estante sempre exerceu uma atração estranha sobre mim, um misto de curiosidade e repulsa. Com uma belíssima foto de uma barata em tamanho natural na capa, conheço gente que não teria encostado nele. Eu encostei. E um dia abri.



Não lembro quantos anos eu tinha, mas lembro de ter passado horas rindo de chegar quase às lágrimas com  o relato daquele cucaracha vivendo nos Estados Unidos num tempo tão, mas tão distante. Eu era uma menina de classe média nascida em 78 e criada a leite com pera em apartamento acarpetado, mas me identificava tão completamente com aquele barbudo que contava histórias de internações por conta de uma doença que eu não entendia direito, de ditadura, de política e de choque cultural. Coisas que eu só podia mesmo imaginar o que eram. Eu ria de coisas que só fui compreender muitos anos depois, eu me emocionava com as partes que deveriam ser tristes mas que na voz dele ficavam apenas melancólicas. Eu amava o jeito como ele escrevia. Era como se ele estivesse ali, sentado na minha frente, contando aquelas histórias. Era como se ele fosse meu amigo mesmo. Reli tantas vezes que sei até hoje algumas passagens de cor. Guardei aquele livro comigo por anos, como um pequeno tesouro. Foi durante muito tempo meu preferido, tão amado a ponto de eu escondê-lo a cada visita da minha tia, verdadeira dona do exemplar, com medo que ela resolvesse pegá-lo de volta.

Hoje faz 25 anos que Henfil morreu e esse texto é meu pequeno agradecimento a ele por ter sido meu amigo .

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