Day 6 - A stranger

Oi desconhecida,

Eu gostaria de poder andar por aí carregando uma plaquinha tipo aquelas de obra: "Desculpem-nos o transtorno, estamos trabalhando para construir uma pessoa melhor." Infelizmente a plaquinha atrapalharia minha mobilidade e as pessoas achariam um pouco estranho e tals, mas enfim. Ela seria sincera, desconhecida. Juro.

Naquele dia em que eu fui escrota com você na espera do consultório médico eu estava cansada, muito cansada. Eu estava doente há semanas, eu estava sinceramente preocupada com o meu estado de saúde e eu não achava justo ter ido até lá e não poder fazer minha mamografia só porque eu tinha usado desodorante naquela manhã, cerca de 8 horas antes. E daí que eu tinha recebido um e-mail com instruções de preparo? Quem lê e-mails com instruções de preparo? Vocês por acaso esperavam mesmo que eu passasse 8 horas sem desodorante no calor que faz nessa cidade?

Nada disso justifica, desconhecida, eu sei. Porque você também certamente estava cansada, provavelmente mora longe pra caramba do trabalho e tinha pego mais de um ônibus lotado para chegar lá. Talvez você estivesse preocupada com a sua filha que você vê tão pouco e passa a maior parte do dia na casa da sua mãe. Pode ser que você estivesse doente também, ou alguém da sua família. Ou sua conta de luz atrasada, a pensão do pai da sua filha que inclusive já casou de novo e não a vê há, sei lá, três meses, enfim. Life sucks most of the time.

Então peço desculpas, desconhecida. Por mim e por mais uma penca de gente que já deve ter sido escrota com você atrás daquele balcão. A maioria não fez por mal. O que ainda assim não justifica.

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