Como ser perfeitamente infeliz
Trabalho está meio parado hoje então arrumei um tempinho para traduzir esse texto/cartum do Oatmeal que achei absurdamente lindo e relevante. Faria um bem danado pra todo mundo lê-lo, então passei pro português para que mais gente aproveite.
Como ser perfeitamente infeliz
Eu não sou uma pessoa feliz. Quando eu digo isso aos outros,
eles entendem que eu sou infeliz.
Eles assumem que meu status é binário: ou eu sou de uma
alegria triunfante ou de uma tristeza absoluta.
Eles não reconhecem um espectro, apenas dois estados: feliz
ou infeliz.
Mas eu nunca me senti “feliz”. Eu já senti alegria. Eu já
senti êxtase.
Mas estes sentimentos são efêmeros.
Ser feliz implica em permanência.
Implica que você completou todos os pré-requisitos.
E agora você pode sentar no topo da sua imensa pilha de “feliz”,
para sempre.
Implica que você ganhou.
Que você derrotou o chefão.
Que você conseguiu.
Você é um triunfo.
Você é incrível.
Você é completo.
Quando eu desabono essa ideia de felicidade, o
contra-argumento é sempre o mesmo:
“Ah, você sabe, é tudo
uma grande jornada”
Mas também não é isso.
A conversa sobre a “jornada” vem sempre acompanhada da ideia
de que a jornada é alegre, rica em sorrisos e diversão e risadas.
Além disso, jornadas requerem pontos finais, senão você não
é o Frodo, você é só um sem-teto vagando por aí com joias roubadas.
O problema com “feliz” é bem parecido com o problema com
Plutão.
Muitos anos atrás Plutão perdeu seu status de planeta e isso
causou um grande alvoroço.
Mas Plutão nunca foi o problema.
Nossa definição de “planeta” é que era o problema. “Planeta”
vem de uma palavra grega que significa “vagante” e era usado para descrever
corpos que se movem no céu em um fundo fixo de estrelas.
Era um jeito vago de descrever uma coisa complexa.
Um planeta se move em uma órbita fixa ao redor do sol?
Ele vai abrindo um caminho dentro desta órbita?
Ele tem luas?
Ele tem que ser de um tamanho específico?
Estas foram as perguntas que foram levantadas quando
esclareceram a definição de “planeta”. Foram perguntas inteligentes que rebaixaram
Plutão.
Plutão não é mais um planeta porque nossa definição de
planeta não era muito boa.
Eu não sou feliz porque nossa definição de “feliz” não é muito
boa.
É uma palavra monocromática usada para descrever um espectro
rico e doloroso dos sentimentos humanos.
Nosso senso de felicidade é tão frágil, ele pode ser
destruído apenas pelo questionamento da sua existência.
Talvez eu seja diferente.
Talvez eu tenha nascido ansioso e irritado e seja desse
jeito que eu encontro paz no universo.
Talvez eu seja realmente muito triste e todo mundo esteja
sentindo algo que eu não estou.
Ou talvez eles estejam mentindo pra caralho.
Isso é irrelevante.
Porque eu não sou feliz e não finjo ser.
Ao invés disso, eu sou ocupado.
Eu sou interessado.
Eu sou fascinado.
Eu faço coisas que são significativas para mim, mesmo que
elas não me façam “feliz”.
Eu corro.
Eu corro 30 quilômetros de uma vez.
Eu corro montanha acima até meus dedos caírem.
Eu corro até os meus pés sangrarem, minha pele queimar, meus
ossos gritarem.
Eu leio.
Eu leio livros longos e complicados sobre coisas inteligentes.
E eu leio livros curtos e bobos sobre coisas muito idiotas.
Eu leio até que as histórias deles sejam mais interessantes
que as pessoas ao meu redor.
Eu trabalho.
Eu trabalho 12 horas por dia.
Eu trabalho até não conseguir pensar direito e esquecer de
comer e a luz lá fora diminuir até um brilhozinho cansado.
Eu trabalho até meu cheiro começar a ficar esquisito.
Quando eu faço essas coisas eu não estou sorrindo nem
irradiando alegria.
Eu não estou feliz.
Na verdade, quando eu faço essas coisas, na maioria das
vezes eu estou sofrendo.
Mas eu faço porque elas significam algo para mim.
E eu acho que elas são instigantes.
Eu faço estas coisas porque eu quero ser atormentado e
desafiado e interessado.
Eu quero construir coisas e quebra-las depois.
Eu quero ser ocupado, e belo e repleto com dez mil partes
móveis.
Eu quero que machuque para que eu possa curar.
Eu não sou infeliz.
Eu sou só ocupado.
E interessado.
E está tudo bem.
Obrigado por dividir o link e o texto não conhecia o Oatmeal. Muito engraçado e inteligente, morri de rir com essa parte: "Eles assumem que meu status é binário: ou eu sou de uma alegria triunfante ou de uma tristeza absoluta."
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