México parte 2: Oaxaca



       Durante uma excursão para as pirâmides de Teotihuacan, nos arredores da CDMX, conheci um estadunidense (os mexicanos fazem muita questão disso, ai de quem chama os nascidos nos Estados Unidos de “americanos”) que tinha como próxima parada a cidade de Vera Cruz. Ele me me disse que não sabia absolutamente nada sobre a cidade, mas que tinha decidido ir para lá depois de ouvir uma música de uma cantora que ele gostava e que falava daquele lugar. E isso fez todo sentido para mim, que tinha resolvido ir a Oaxaca depois de assistir a um programa de culinária na Netflix. Um episódio do documentário Street Food: América Latina, que contava a história das vendedoras ambulantes da cidade e de suas especialidades. 

        

    Oaxaca de Juárez é a capital do estado de Oaxaca e fica a cerca de 600 km da Cidade do México. Eu peguei um voo por volta da uma da tarde (voos domésticos são absurdamente baratos) e em menos de duas horas estava nesse lugar com o qual eu sonhava há meses. Cheguei cansada, com fome, com calor e tentando me ambientar a uma cidade que não se parecia em nada com as imagens lindas que eu tinha visto na tv. Dei de cara com ruazinhas estreitas, lotadas, muitos carros, muita poeira, uma bagunça daquelas que parece ser a especialidade da  América Latina. Deixei as malas no hostel, fui atrás de um lugar para lavar minhas roupas e me embrenhei no mercado Benito Juarez em busca de comida. E foi saindo do mercado em direção ao centro, já quase no fim da tarde, que eu entendi. 

    Oaxaca é tão linda que eu quase não tirei fotos. Meu celular velho e minha falta de habilidade jamais seriam capazes de fazer jus à beleza dessa cidade. Por volta das cinco da tarde decidi me sentar em um restaurante dos muitos que circundam a belíssima e lotada praça principal da cidade. Fiquei ali, tomando uma cerveja (Victoria é a boa, anotem) e observando o vai e vem dos turistas e dos locais, os vendedores ambulantes, os velhinhos tocando violão, as crianças com balões coloridos. Na segunda cerveja, um moço se aproximou da minha mesa e, em pé, perguntou se eu falava espanhol. Respondi que sim, e ele me disse, muito educado: “Eu vi que você está sozinha. Eu também estou. Você não quer conversar um pouco?”. Eu tinha acabado de chegar na cidade e uma mulher viajando sozinha, ainda mais num país estrangeiro, tem que ser cinco vezes mais desconfiada. Agradeci e disse que não. Ele imediatamente se desculpou e voltou para a mesa dele. 

    Vinte minutos depois a garçonete colocou uma dose de mezcal na minha frente. Diante do meu olhar de interrogação, apenas apontou para a mesa do moço e respondeu: “ele me pediu para te servir”. Dessa vez prestei atenção nele. Tinha aproximadamente a minha idade. Magro, cabelo escuro bem curto ficando um pouco ralo. Parece um clichê em se tratando de um homem mexicano, mas ele poderia ser claramente um figurante muito bonito de Breaking Bad. Peguei meu mezcal, fui até a mesa dele e foi assim que eu conheci Salomon e passei meus dias em Oaxaca com um guitarrista mexicano da Baja California que me chamava de “preciossa”. Com ele fiz um tour pelas destilarias de mezcal, conheci cachoeiras petrificadas e ruínas astecas, experimentei comidas que talvez não tivesse encontrado sozinha, andei sem rumo pelas vielas lindas da cidade e provei as famosas memelas de doña Vale, aquelas do programa da Netflix que tinham me levado a Oaxaca.

                                                                                                              O mezcal que deu início a tudo

                                                                                                                      


    Naquele lugar vibrante e colorido eu fui feliz como se nada mais importasse. Como se o mundo fosse perfeito. Oaxaca aqueceu meu coração descrente e me lembrou que existe muita beleza por aí.



 

Esta é uma pessoa com a barriga cheia de memelas, a cabeça cheia de mezcal e o coração lotado de amor.

Comentários

  1. Caramba! Eu sempre falo com as pessoas, deveria ser mais assim como você, mais desconfiada. Mas ainda bem que deu certo. Cadê fotos das cachoeiras petrificadas?

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    1. Te mandei uma foto no instagram! A moça no restaurante me garantiu que ela mesma tinha servido o mezcal e eu podia beber sossegada hahaha. No final ele era mesmo um fofo e deu tudo certo, mas a gente tem que desconfiar mesmo.

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