Well, I can't see anyone else smiling in here
Ontem eu fiquei sabendo que você se foi. No Natal de 2022 você decidiu que esse mundo aqui era demais pra você e resolveu partir. Não nos falávamos há mais de um ano então. E eu só soube do que aconteceu ontem. Maio de 2024. Quase um ano e meio depois.
Eu amei você. De verdade. E acho que você me amou também mas, não sabendo o que fazer com a minha calma, acabou indo embora. Ao contrário da minha, sua mente era inquieta. Funcionava de um jeito diferente da maioria das pessoas. Você nunca se sentiu 100% confortável no mundo e eu adorava isso em você: suas pequenas idiossincrasias, o ódio ao calor e à comida muito quente. A sinceridade quase infantil que volta e meia te colocava numa saia-justa. A empolgação com a qual você tentava me ensinar coisas completamente aleatórias como o funcionamento do motor da Marea. Você amava Mareas. E embora eu deteste carros e toda a cultura de adoração que os envolve, eu amava como você amava sua Marea. Ela tinha até um nome, mas eu não lembro dele agora.
Nos conhecemos em Janeiro de 2020. Em Março o mundo mudou completamente e nós decidimos que queríamos passar por aquela loucura (que achávamos que duraria o quê? dois meses?) juntos. E foi a melhor decisão que poderíamos ter tomado. Porque o mundo meio que acabou naquele ano mas eu? Eu fui feliz pacas. A gente cozinhava, bebia cerveja, ria, brincava com os gatos, trocava memes, tinha medo. Saía de carro na madrugada, dirigindo sem rumo, fumando horrores e ouvindo música. Você me apresentou suas bandas preferidas, eu te apresentei Novos Baianos e foi como se você tivesse descoberto uma coisa incrível pela primeira vez em décadas. No carnaval de 2023 eu tatuei uma abelha no braço por causa de Acabou Chorare e pensei em te mandar uma foto, mas acabei deixando pra lá. No carnaval de 2023 você já não estava mais aqui.
Quando eu soube do acontecido, fiz o que muita gente provavelmente faz nessa situação: tentei entender o porquê. Fui nas suas redes sociais procurar um indício, um sinal do que você viria a fazer, por mais que a gente saiba que esses sinais nem sempre existem. Me perguntei como estava sua vida naquele momento. Como estavam Jolene e Chocolate, suas gatas. Se ainda tinha as pantufas do Marx que eu tinha te dado porque você era incapaz de andar descalço e não gostava de chinelos de dedo. Se tinha voltado a pedalar. Ter vivido um relacionamento de pandemia fez com que não tivéssemos praticamente nenhum amigo em comum, ninguém com quem eu pudesse conversar, então só me restaram perguntas mesmo. Me questionei se alguma coisa teria sido diferente se eu tivesse ficado por perto, como amiga. E no final, só fiquei triste. Porque é tudo muito triste mesmo. E porque talvez eu tenha demonstrado, mas nunca te disse (porque eu sou boa com a palavra escrita, mas péssima na falada) o quanto você era incrível. E o quanto você foi importante pra mim e, tenho certeza, pra muita gente. Eu espero que você tenha partido sabendo disso.
E vou sempre lembrar de você quando ouvir Common People na versão do William Shatner.
ResponderExcluirHoje estava pensando em você. No que parecia que você era e no que parece que você se tornou. E eu acho que você se tornou uma pessoa muito melhor do que todas nós (as amigas de antes) juntas. Acho que a vida é assim mesmo e
a gente vai dia a dia tentando botar um tiquinho de energia pra ela ser melhor. E às vezes ele é. E às vezes, não.