Cara mamãe...

Eu juro que tento a todo custo evitar o discurso do "não sou pedagoga" na hora de justificar certas crenças que tenho quanto aos meus métodos de ensino, já que tal discurso da a impressão que estou "tirando o meu da reta" quando alguma coisa dá errado. Mas eu realmente não sou pedagoga e se hoje dou aulas para Ensino Fundamental I é porque a legislação permite que licenciados em Letras Inglês o façam, sendo que as outras professoras precisam, necessariamente de um diploma de Pedagogia.
Eu sinto que a tal pedagogia as vezes me faz falta. Mas entendo também que, com 50 minutos de aulas semanais há pouco que eu possa fazer para assumir uma responsabilidade maior na alfabetização dos pequenos. Não tendo formação na área, aliás, nem sei se deveria. O fato é que em reais 40 minutos (pois devo descontar os 10 que gasto fazendo a classe se acalmar ou pedindo aos alunos que voltem aos seus lugares, guardem as figurinhas e parem de atirar borrachas)eu preciso corrigir 30 apostilas (correção na lousa só para a quarta série), ler e responder recados nas agendas, cantar musiquinhas, revisar a aula anterior, passar a lição nova e conferir em 30 agendas se a lição de casa foi anotada. Sobra mesmo muito pouco ou nenhum tempo para me certificar de que os pequenos (principalmente a primeira série)estão escrevendo tudo direitinho. Principalmente porque o foco da aula de Inglês nos primeiros anos nem é a escrita. Considere-se ainda que os pequenos erram pouco, pois a pouca escrita que é feita ainda é muito baseada na cópia. Afinal, eles estão sendo alfabetizados.
Semana passada passei uma tarefa escrita para a primeira série. Dois dias depois recebo um recado da mãe avisando que a menina tinha escrito algo errado na tarefa e questionando a falta de correção. Educadamente respondi que as crianças tem aula de Inglês uma vez por semana e que portanto não tinha havido tempo para a correção que é sempre feita em sala. No dia da aula, pego a apostila da menina. Tudo certo. Dou visto bem grandão para a mãe ficar contente.
No dia seguinte a agenda volta com outro recado. O "erro" era uma letra D escrita ao contrário na palavra "and".
Eu entendo que na primeira série muitos pais ficam apreensivos e querem a todo custo participar ativamente da vida escolar das crianças. Apóio completamente tal comportamento, pois já cansei de dizer que pais relapsos são uma causa fortíssima de problemas na escola. Mas tem gente que exagera. Se eu pudesse teria respondido:
"Cara senhora mamãe da C...,
Sua filha é uma menininha fofa e muito inteligente que gosta bastante da aula de Inglês. Ela gosta desta aula principalmente porque não precisa fazer cópias imensas da lousa e passa a maior parte do tempo cantando, aprendendo palavras novas e associando significados. Ela só tem sete anos e até o fim desta série provavelmente escreverá algumas letras ao contrário, pois isso faz parte do processo de alfabetização. Se eu, como professora de Inglês, não dei a devida atenção ao D ao contrário foi porque o mesmo realmente não merecia tal atenção já que sua filha fez a tarefa com tanta alegria e capricho e ainda por cima acertou todo o conteúdo. Agora a senhora por favor vá arrumar uma pilha de roupa para passar e dê um pouco de crédito à professora polivalente, que é quem está mais habilitada a alfabetizar sua menina.
Grata,
Tia Paula"

Obviamente não pude responder isso. Tive que pedir desculpas e garantir que prestaria mais atenção da próxima vez. E ai das próximas letras ao contrário que cruzarem meu caminho. Caneta vermelha nelas.

Comentários

  1. Pois é, e quando a menina ficar traumatizada e começar a não fazer lição at all, a mãe vai pôr a culpa na professora de novo. Típico de quem quer que o filho seja um gênio. E frustrado, homem-massa, vaca de presépio. Prontofalei.

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  2. A tia compreende tão bem o processo de alfabetização e não se reconhece como pedagoga? Faz uma Pedagogia para licenciados (lá na minha facu tem em EAD, baratinho e reconhecida).

    Diga à mãe excessivamente zelosa, que cair quando se aprende a andar é tão normal quando escrever um "d" ao contrário. Caneta vermelha não, please. Emília Ferreiro nela!

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