Fazendo as pazes com o passado

O ano era 1986. Num colégio de freiras na Saúde aproximava-se o grande evento do ano: a festa junina. Com ele, o concurso mais aguardado da segunda série, a eleição da Miss Caipirinha.
Não que eleição seja a palavra exata. Para ser Miss Caipirinha a petiz não precisava ser a mais bonita nem a mais simpática ou estudiosa. Bastava vender rifas. Muitas rifas da festa do colégio.

Eu não era a personificação da simpatia, digamos assim. Entretanto, tinha (tenho) a mãe mais próativa que o Instituto Santa Amália já conheceu, e o resultado foi o esperado. Graças a uma mobilização familiar e condominial nunca vista antes, minha mãe vendeu centenas de rifas e eu ganhei o bendito do concurso. E lá fui, no dia da festa, mal humoradíssima com a roupa de caipira, a meia calça pinicando e o excesso de atenção não solicitada, receber meus super prêmios: uma coroa de cartolina com glitter e um jogo de relógios que trocava pulseira.

Pensem em decepção, leitores. Lá estava eu, do alto dos meus incompletos oito anos de idade, recebendo um kit de relógios de plástico enquanto a segunda colocada, nomeada "Princesa", ganhava um Pequeno Pônei lindinho, colorido e cheiroso. Com o coraçãozinho cheio de ódio fui pra casa, larguei aquele relógio xexelento num canto e nunca mais soube dele. Isso para não mencionar o trauma de festas juninas desenvolvido desde então.

Mas o tempo passa minha gente. E 23 anos depois, vejam só que ganhei de mãmis no Natal:


Os meus têm, claro, cores mais discretas - ao invés do lilás e do vermelho, há um cinza e um transparente.

Posso falar? Adorei. Fiz as pazes com os anos 80. Mas não com as festas juninas.

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