A maçãzona

Tudo que aprendi nos anos de cursinho de línguas sobre os americanos é verdade. Eles são educadíssimos e gastam seus "please", "sorry" e "thank you" sem medo de ser felizes. Me ajudaram sem a menor má vontade quando me enrolei com as benditas moedinhas de cents que não têm o valor bem grandão cunhado nelas, como as daqui. Me explicaram como passar nas catracas do metrô, que não esperam ninguém: passou o cartãozinho tem que ir correndo senão ela trava. Pararam na rua oferecendo informações ao ver Queridão e eu meio perdidos com um mapa na mão. Se esforçam para atender quem não fala a língua deles, talvez porque já estejam acostumadíssimos a isso - difícil mesmo é achar um americano de verdade nas ruas de Nova York. Gente tão diferente, falando tantas línguas ao mesmo tempo, todas misturadas em todos os lugares - diversidade cultural é lá, minha gente, não aqui onde cada um mora no seu guetinho.
São Paulo se orgulha de ser cosmopolita, multicultural e blábláblá, mas a verdade é que perto de Nova York somos um bando de caipiras. Não é conversa de deslumbrada: qualquer um que já esteve lá vai concordar. É tudo muito grandioso, muito brilhante, muito muito. Deve ser um dos poucos lugares do mundo (junto com Tóquio) que ainda utilizam neon sem ser em motéis ou casas de tolerância. E haja neon.
Tem as chatices de qualquer metrópole: trânsito caótico, sujeira, lotação - tentem entrar numa Starbucks qualquer numa tarde fria de sábado. O metrô é mais deprimente do que dizem, sujo, escuro, caindo aos pedaços, mas funciona - vai para todos os lados e todo mundo usa. O café é péssimo (e isso pra mim é a morte), os doces são muuuito doces e a comida é aquela pasmaceira de desanimar: massa, hamburger, pizza, comida chinesa ou omelete. Mas o cachorro quente das carrocinhas de cada esquina é ótimo, pão e salsicha mas salsicha de verdade, não de jornal como a nossa.
Claro que não estou contando novidade nenhuma. Qualquer pessoa que tenha assistido mais de 10 filmes na vida chega a Nova York e se sente em casa. É como se já tivesse visto tudo aquilo. Eu andava procurando a lanchonete do Seinfeld, pois tinha a impressão de que ela a qualquer momento ia pular na minha frente. O próprio soup nazi do seriado se manifestou na forma do panini nazi, que diante do pedido de dois paninis to go as onze da noite respondeu com um clássico: "NO PANINI THIS TIME! ONLY SANDWICH!" Porque, né, absurdo pedir um panini as onze da noite na cidade que se orgulha de nunca dormir.
E teve o Guggenheim. Estava lá sossegada com Queridão na fila dos ingressos quando ele aponta (discretamente): Olha lá o Pierce Brosnan. E era. Em carne, osso e cabelo branco, que o ex James Bond já virou um senhor de respeito. Fez o audio tour com a gente, todo mundo tão civilizadinho, ninguém foi encher o saco dele. Se bem que o Pierce Brosnan em NY nem deve ser assim meega estrela, o povo deve estar acostumado a ver gente mais famosa. Não, não tirei foto com ele nem fiz piadinha tosca tipo "My name is Borges, Paula Borges", mas não duvido nada que algum outro brasileiro fizesse. Nossa cara.
Dá vontade de morar lá. Seria como morar num filme. Desde que não fosse "Independence day", claro.

Comentários

  1. Sério que eles são assim?

    Minha prima acabou de voltar de lá e disse que ela era a única pessoa que falava "Bom dia" ao entrar na sala de aula.

    Pode ser que dependa da região, mas os que eu tive a honra de conhecer aqui no Brasil eram extremamente divertidos (tipo filme mesmo, com aquelas gracinhas no meio das observações). E eram de várias cidades diferentes.

    Acho que eu acredito mais em você.

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