Same old story

Tento remarcar uma aula com certa aluna particular:

_ Amanhã as 10, pode ser?

_ Pode _ Ela pensa um pouco. _ Dez e meia, porque é meu rodízio.

Ela mora em Higienópolis e tem aula em Perdizes. Pertíssimo, em termos paulistanos, no máximo vinte minutos de ônibus. Mas claro que para ela transporte coletivo não é uma opção, pois minha aluna, como a maioria dos paulistanos motorizados, ignora essa possibilidade. Para eles o transporte público é uma realidade distante, um lugar cheio de gente esquisita, sem educação e, o horror! O horror! Pobre. Afinal de contas, o paulistano motorizado médio não está lá esfolando o traseiro diariamente no trabalho para pagar as 795 prestações do seu “possante” para deixá-lo na garagem uma vez por semana. Porque ele não é como aqueles pobres do ônibus. Ele tem um carro e isso o torna imediatamente melhor que os outros e mais bem colocado na fila da salvação divina.

Eu não tenho carro por opção. Claro que não sou inocente nem faço a “ecochata conformada”. Pegar ônibus é chato. É desconfortável. Mas, por incrível que pareça, costuma ser mais rápido – pelo menos no meu itinerário. Claro que naqueles dias de chuva ou nos quais eu estou carregando 634 livros eu penso em como seria bom ter um carro. Mas aí eu lembro do custo e do pouco benefício que ele geraria a alguém que mora perto do trabalho como eu e compro meu bilhete do metrô.

Não estou pregando que as pessoas desistam de seus carros, vejam bem. O transporte coletivo de São Paulo está longe de ser uma maravilha e carros são necessários. O que me incomoda é a importância que alguns atribuem a eles, como se a vida se tornasse automaticamente melhor a partir do momento que você é proprietário de suas quatro rodas. Todo mundo reclama do trânsito, mas organizar um sistema de carona que tiraria quatro carros do seu caminho ninguém quer. Dá trabalho. E carona também é meio coisa de pobre, convenhamos.

Comentários

  1. Olha eu vejo assim: quando se pega uma lotação entupida, sem oxigênio e com um monte de tarados querendo se esfregar na mulherada, três vezes por semana, é muito difícil de se pensar na natureza, em dia de rodízio. Não tem a ver com status, na verdade...Agora, concordo que de higienópolis a Perdizes é sacanagem.

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  2. Ah, Bruna, mas é desse tipo de atidude que eu estou falando. De gente que nem pega ônibus e já fica apavorada com a possibilidade de ter que...

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  3. Não conheço Sampa direito. Não sei nem errar caminho por lá. Mas Brasília é pior em termos de carro. Aqui é um carro por habitante. Comum ver casas nos bairros nobres com 5, 6 carros na garagem.

    Sim, porque além de não pegar ônibus, brasiliense também só sai da casa dos pais quando casa... e olhe lá.

    É um pouco justificável porque por aqui tudo é perto e nada é perto. Difícil explicar, mas é verdade.

    Por outro lado, pode ser que a tua aluna tivesse que ir a algum lugar após a aula... vai saber...

    :p

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