Papo de criança

Os dois tem sete anos. Ela é gordinha, pinta uma unha de cada cor e nunca traz as canetinhas. Ele é baixinho, invocado e tem um sotaque baiano que dá vontade de embrulhá-lo e levá-lo para casa.

"Antônio, quando você for pra Bahia você traz um cacau pra mim?"

"Pra que você quer um cacau?"

"Pra fazer um trabalho da escola."

"Mas eu acho que não tem mais cacau na Bahia."

"Não? Por que?"

"Porque as abelhas e as formigas comeram todos."

"Mas será que não tem mais nenhum?"

"Vai ver na fazenda do meu tio tem."

"Onde fica a fazenda do seu tio?"

"Oxe, sei lá. Sei que demora."

"Quanto custa um cacau?"

"Treze."

" Então eu te dou dez e você traz um pra mim?"

"Trago."

"E não esquece do troco."

"Mas é cacau de verdade, não é chocolate não."

"Eu sei, a tia da escola mostrou uma foto. Ah, Antônio, já sei. Eu te dou mais dinheiro e aí você traz um cacau pra mim e um monte de cacau pra você."

"Quero não, eu não gosto de cacau."

"Não?"

"Eu só gosto de chocolate."

"Então eu tive uma idéia. Traz um monte de cacau, aí eu faço chocolate e te dou pra te agradecer."

"Tá bom."

"Tiiiia, acabei o desenho! Posso beber água?"

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