Uma noite no videokê

Pelos meu amigos eu já fui a show do Guns n' Roses cover no Morrison, já fiquei em um hostel xexelento no Rio de Janeiro, já bebi cerveja Glacial quente, já assisti apresentação do Angra em um porão em Sorocaba. Pelos meus amigos eu fiz coisas das quais me arrependi bastante depois.

E pelos amigos fui parar ontem em um videokê.

Um videokê é um lugar tão coalhado de clichês que mal sei por onde começar, mas vamos lá. Chegamos antes do aniversariante e fomos recebidos por aquele aroma característico de fritura. Não sei o que é mais detestável: antes da lei antifumo voltava-se pra casa cheirando cigarro, agora volta-se cheirando pastel. Os frequentadores do lugar eram basicamente o pessoal da "firma" fazendo um happy hour pré-feriado. Dentre estes, uma penca de tiozões esquisitos tomando uísque, que queridão logo classificou como a turma dos divorciados. Por que alguém escolheria celebrar seus 27 anos num lugar daqueles, meu deos? Com fome, pedimos dois chopes e o único sanduíche do cardápio que não parecia ter saído de uma cantina de colégio e esperamos o resto do pessoal, que chegou logo.

Mas um videokê, como todo mundo sabe, não é feito apenas de cheiro de batata, tiozões e comida ruim. Há o motivo pelo qual as pessoas decidiram se reunir lá - a "música", assim mesmo, entre aspas, porque o que saía da garganta de certas pessoas dali só com muita boa vontade poderia ser classificado como algo vagamente musical. Grande parte das vezes, eram só berros mesmo. Berros e música chata, cantada por gente esquisita.

Mas alto lá, dirão vocês - música chata e gente esquisita são parte integrante dessa experiência social chamada videokê. Quer ouvir música boa vai a um bar de jazz, ué. E mais uma vez, repito a minha pergunta: Por que alguém escolheria celebrar seus 27 anos num lugar daqueles, meu deos? E eu lhes digo, coleguinhas, a coisa estava feia. Alternava entre pagodes dos anos 90, sertanejos completamente desconhecidos e as "must-sing" de qualquer videokê de respeito: Kid ABelha, Djavan, Lulu Santos e assemelhados.

Não é que eu não consiga me divertir em um lugar assim. Eu consigo, juro. Depois de umas cervejas sou bem capaz de subir no palco e mandar o pior Like a Virgin que um ser humano já produziu porque pra mim essa é a essência da coisa - avacalhar. Quanto mais melhor. O problema é que naquele bar, especificamente, o pessoal parecia ter ido pra cantar mesmo. A sério. E aí vira tortura. As tentativas do meu grupo de introduzir a veia tosca no recinto com um Always desafinadíssimo e um Mamonas Assassinas foram inúteis. A galera seguiu firme e forme no Andrea Boccelli. E quando as aulas na faculdade ali ao lado acabaram, piorou. O bar foi invadido por universitários boçais que acham engraçado subir em 20 no palco pra cantar Asa de Águia. Diante deste cenário aterrador, só nos restou o álcool. E este também não colaborou.

Depois de litros de chope que não estavam surtindo o efeito desejado (nos deixar bêbados o suficiente para nos divertirmos de verdade), queridão decidiu apelar e pediu um gin tônica. Gin tônica já é, por natureza, uma bebida do diabo - é levinha, fresquinha, e tem um teor alcoólico de assustar o Boris Yeltsin. Feita com gin vagabundo, como imagino ter sido o caso, torna-se letal, ou quase. A ressaca que me acompanhou hoje entrou com folga no meu top cinco "piores ressacas da história" e briga ferozmente pelo primeiro lugar. Passei o dia imprestável.

Ao contrário do que as chances apontavam, chegamos em casa salvos (porque sãos não é exatamente a palavra) e prometendo não voltar a um videokê tão cedo. Mas ó, se tem um casal que gosta de quebrar promessas nessa vida, somos nós.

Comentários

  1. eu nao li tudo porque fiquei ofendida.
    (como uma boa japonesa) eu adoro karaoke :(

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  2. voltei pra dizer que meu comentario anterior pareceu serio, mas era brincadeira. hah

    eu gosto de karaoke sim, mas entendo que 99% da populaçao ache uma aberração.
    afinal, detonar os pulmões gritando TOTAL ECLIPSE OF THE HEART so é legal pra quem ta ali cantando.
    pra quem ouve é uma merda.

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  3. Pense que poderia ser pior: você lá SOLTEIRA. Jesuis, que desespero!

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  4. Hahahahaha! Ri litros com a "...Glacial quente". Não sabia que mais alguém tinha tido o desprazer!

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  5. Hahahaha, Amanda. Pra mim o videokê ideal é aquele japonês style, de cabibinhas - assim eu ouço só as tosqueiras que meus amigos assassinam. Ser obrigada a ouvir casalzinho fazendo dueto com música da Sandy é demais pro meu coração.

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