Woody Allen me entende

Incorporei a crítica de cinema, dá licença?

Já falei por aqui do meu amor pelo Woody Allen, né? Pois voltei para reafirmá-lo depois de ter assistido Você vai conhecer o homem dos seus sonhos.
Eu amo Woody Allen por um motivo simples: ele coloca o dedo na ferida delicadamente. Ele sabe o que nos incomoda, o que nos machuca, e faz questão de nos lembrar disso o tempo todo. Ele narra as relações humanas de um jeito tão verdadeiro e tão universal que é impossível não se identificar com pelo menos meia dúzia de personagens dele. E ele faz isso com charme. Eu adoraria viver num filme dele, na Nova York ou, mais recentemente, na Londres que ele retrata.
Muita gente não entende. Sai do cinema ou desliga o DVD achando que não viu nada de especial ali, talvez porque esperasse de um diretor tão cultuado algo espetacular, e mr. Allen não faz nada de espetacular. Ele fala de pessoas que podiam ser nossos vizinhos, colegas de trabalho, irmãos. Todo mundo tem um personagem dele na família. E todo mundo, em algum momento, vai assistior a uma cena qualquer, de um filme qualquer e pensar: "uai, e não é que é isso mesmo?"
Em Igual a Tudo na Vida o personagem do Jason Biggs é mais um escritor frustado perdido em Nova York e preso a uma relação completamente neurótica com uma atrizinha pé-no-saco interpretada pela Christina Ricci. Ele pega um táxi e começa a filosofar sobre a vida, o universo, sobre porque as pessoas são assim e blábláblá e, do nada, o taxista diz: "É, meu filho, já viu... É igual a tudo na vida." É tão óbvio e faz tanto sentido que acaba sendo genial.
Você vai conhecer o homem dos seus sonhos fala de ilusão - o homem de meia idade que se casa com uma garota de programa e paga para que ela diga o que ele quer ouvir, a divorciada que crê piamente em tudo que uma vidente charlatona diz porque a vidente diz o que convém a ela (a divorciada), o escritor frustado que acha que ainda vai emplacar um sucesso editorial, a mulher do escritor, infeliz no casamento, que acredita que pode ter uma chance com o chefe rico e charmoso. Todo mundo já passou por isso. Todo mundo já se iludiu com um amor, uma carreira, uma amizade, um bem material que supostamente resolveria qualquer problema.
Ao mesmo tempo o filme conclui que, ilusão ou não, no fundo é tudo questão de ponto de vista - as chances são sempre 50%. O livro pode ser aceito ou não, o chefe pode se interessar por ela ou não, o filho que a garota de programa espera pode ser do homem de meia idade ou não. É meio a meio. O problema é quando esse meio a meio também vira ilusão. Quando ele deixa de existir e passa a haver apenas uma opção, e nós contiuamos fingindo que a outra possibilidade ainda está lá.
O filme deixa isso no ar. Não sabemos quais eram as chances reais de cada um. Saímos do cinema com aquela sensação de semi-derrota mas de certo conforto, do tipo "olha aí, o Woody Allen me entende..."

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