Eu, turista

Antes devo explicar que este post surgiu porque a matriarca da família visitará Buenos Aires pela primeira vez na companhia das duas lindas rebentas (eu e minha irmã, para quem não entendeu). Eu e irmã já conhecemos a terra do alfajor mas, sendo a primeira vez da véia, estávamos debatendo ontem (mentir, estávamos quebrando o pau por telefone) se deveríamos ou não levá-la a um show de tango.

Não que eu seja uma cidadã do mundo, mas o pouco (bem pouco mesmo) que rodei por aí foram suficientes para deixar bem claro que tipo de turista eu sou: eu sou a anti-turista.

Para começar eu não tiro fotos. Tenho bons olhos (mais ou menos, olha os seis graus de miopia aí, gente) e acho que eles são bem mais eficientes que uma lente para reter minhas memórias de viagem. As fotos que trago na bagagem costumam ser de anônimos na rua, placas, bichos, pichações. Não vejo sentido em tirar fotos ruins de uma coisa que todo mundo já viu zilhões de vezes em imagens muito melhores, como a torre Eiffel.



Naipe das fotos que eu tiro, tenho 15 ano, beijos.

Mas não são só as fotos. Eu não curto fazer coisas de turista. Quando fui a Nova York estive, obviamente, na Estátua da Liberdade, mas essa não foi nem de longe a melhor parte da viagem. Ao contrário, foi meio como visitar aquela tia chata que, se você não aparecer, vai telefonar para a família inteira reclamando que você esteve na cidade e não foi vê-la. A vista de Manhattan de dentro do barco que nos leva até a ilha é mil vezes mais legal. A estátua é só uma estátua. Verde e menor do que a gente pensa. Você chega lá, dá uma volta na ilha, entra na moça (ops!) se tiver ingresso, come um sanduíche ruim e tem que esperar o horário do próximo barco para voltar.

Minhas melhores lembranças da maçãzona são a primeira vista da cidade pela janela do ônibus, com as pessoas atravessando a rua numa manhã deslumbrante; andar pela 5ª avenida lotada de gente a meia-noite voltando da Broadway (a caminhada muito mais do que a peça); o sinal sempre fechado na esquina do hotel que nos obrigava a esperar três minutos no vento mais gelado que se em notícia; o velhinho tocando m instrumento misterioso na plataforma do metrô de Chinatown; minha cara diante de um queijo quente para viagem que vinha com um pepino em conserva inteiro do lado. Sou dessas: olho para os detalhes, para as coisas pequenas, para tudo que não é turístico num lugar.

Manhattan me diz "oi!"

Em Buenos Aires foi a mesma coisa. Fiquei lá 10 dias, o que é uma eternidade para um turista tradicional. Para mim, foi pouquíssimo. Eu fui me apegando à cidade, às nectarinas gigantes da quitanda da esquina, às empanadas de queijo e cebola do outro lado da rua, aos velhinhos, às roupas bonitas das moças, aos cães e gatos com livre acesso aos restaurantes.

Sim, fui a Palermo, ao Caminito, comprei bugigangas na calle Florida e visitei o túmulo da Evita. Mas lembro com carinho mesmo é de um bar em San Telmo no qual entramos a princípio por causa do nome interessante: Simón em su laberinto. Ficamos amigos das donas e do cachorro delas e descobrimos que lá funcionava um tango gay – homem com homem, mulher com mulher, até homem com mulher. Era chegar e dançar. Tudo tão natural, tão amigável e tão divertido que voltamos lá todos os dias até o fim da viagem.

Tango Queer


Não fui a nenhum show de tango tradicional, daqueles caros e cafonas. O do Simón era muito mais legal.

Pois é, ou dessas. 

Comentários

  1. Também sinto como uma obrigação visitar pontos turísticos. Das poucas vezes que peguei na máquina em Paris, por exemplo, foi para tirar foto de dois cachorros, de um moço numa escada, pintando uma parede e coisas do tipo. A propósito: fui três vezes ao rio e não fui ao Cristo. Alguém vai ter de me levar amarrada até lá.

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  2. ah, bata aqui! 0/

    Eu tb não tenho vocação pra turista. e não há nada que mais odeie no mundo do que foto posada. Primeiro porque eu não sou bonita nem fotogênica então fica sempre forçado estranho. Segundo que tá lá a cidade na tua frente, um monte de coisa pra ver e o povo fica tirando foto.

    Foto só em momentos muito legais, que vc quer guardar de alguma forma. Adorei as fotos de Nova York.

    Eu sou tão não turista que fui a Ouro Preto e não entrei em nenhuma igreja. Pra dizer que num entrei, dei uma espiada numa missa, na qual uma dupla de cantores pareciam anjos.

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  3. Onde assina?
    Buenos Aires me encantou justamente pelas coisas que ninguém relata de lá: a irritabilidade dos taxistas, o cheiro de mofo das livrarias, o gosto da cebola das empanadas, o quanto as pessoas são lindas, etc. Eu me mudaria pra lá ontem. Sou dessas também, de querer ser absorvida pela rotina do lugar, e não enfrentar 4 horas de fila pra ver monumento.

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  4. Como diria Verissimo: "todo mundo tem o seu cantinho". Aquele que você conhece sem querer e se torna a sua referencia do lugar e que você recomenda para quem vai voltar lá.

    ps.: A vista do Cristo é muito linda... um desafio é tirar foto sem ter desconhecido nela. hehehe

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  5. nunca fui a buenos aires muito menos pra nova york, mas somos do mesmo clubinho de turistas!

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  6. Aaaah Amanda, mas você já foi ao Japão!

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  7. adorei a comparação de pontos turisticos com "visitar aquela tia chata que, se você não aparecer, vai telefonar para a família inteira reclamando que você esteve na cidade e não foi vê-la." HAHAHAHAAHA

    adoro dizer pra todo mundo que, quando fui ao rio de janeiro, nao fui no cristo. tava nublado, chovendo, não dava pra ver nada. preferi brincar de novela do maneco nas ruas do leblon, ir no supermercado e comer biscoito na rua.

    e quando morei em são jose dos pinhais (voce foi me visitar!), uma semana antes de ir embora, eu fui na opera de arame, em 10 minutos eu entrei la, tirei 4, 5 fotos e fui com comida mexicana com o moisa. so pra ninguem ficar me enchendo o saco de MEU DEUS VOCE MORAVA EM CURITIBA E NAO CONHECE NEM A OPERA DE ARAME. sim, tem gente que fica 3 dias lá e conhece os pontos da cidade que eu nao conheci em 2 anos.

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  8. HHAHAHA MEU NO JAPAO EU FIZ MUITO PROGRAMA DE TURISTA MALA!
    minha mãe é dessas, mas descobria umas coisas bem diferentes, tipo um museu de pérolas. eu ja fui num fucking museu de pérolas. mostravam como as mulheres entravam na água de -2°C e mergulhavam pra catar as ostras e tal. e fotos e fotos e folhetos e pose de turista.
    mas nesses casos eu nao ligava porque eu morava lá e os momentos de observar os moradores, os costumes, os mercados e os motoristas de ônibus eram muitos.

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  9. Ai Amanda amei o museu de pérolas! Eu, nascida e criada em São Paulo, fui ao Masp pela primeira vez com 24 anos, então...

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  10. Sou do mesmo time. Fui a NY e nem cheguei perto da Estátua da Liberdade (pra que, se tenho a belezura ¬¬ da estátua da Havan aqui em Floripa? hahahahah) ou do Empire States.
    Passeamos pela cidade com uma amiga que mora lá, e foi uma delícia conhecer uma NY diferente desses pontos famosos.
    E ainda passeamos pelo Village, bairro do Friends! Me senti a Monica Geller... hahahaha

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  11. Toca aqui, que eu também não tenho a menor vocação pra turista.
    Quando eu fui em Buenos Aires meus pais queriam levar eu e a minha irmã nos shows de tango (eles haviam estado na cidade um ano antes e foram num show). Mas eu já não estava muito a fim, e uma amiga tinha avisado q era fria, que a comida era ruim, que tinha o risco de pegar lugar com visão ruim... Daí que a gente se recusou, e eu preferia ter minhas noites livres pra andar na cidade.

    Nas minhas viagens eu fui em muito lugar de turista, mas também me ligo mais nesses pequenos detalhes de cotidiano, as pessoas na rua, os anúncios, as placas, etc. Na Torre Eiffell foi mais engraçado ver um argentino de chimarrão na mão tirando foto com um cara vestindo de macaco e depois se recusando a pagar, do que tirar foto com a torre pequenininha na mão (coisa q todo mundo faz). Em Buenos Aires achei uma loja de quadrinhos que o dono era A CARA do Alan Moore. E por aí vai.

    E verdade isso das fotos ruins. Quando eu fui na Basílica de São Pedro, teve um momento que eu guardei a máquina, porque percebi que as fotos iam ficar uma merda. Outra: que ia ficar ali com minha atenção voltada a tentar tirar uma foto boa e não ia perder o passeio.

    E valeu pela indicação do Tango Queer. Quando eu voltar a Buenos Aires (porque eu vou voltar, ô cidade linda) vou procurar.

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