Não existe amor na fila dos frios


Aquela cena linda que todo mundo já conhece - casal com fome resolve passar no supermercado para garantir o lanche do fim de domingo. No Záffari. Do shopping Bourbon. Muita criança, muita família carregando algo que parece uma mudança mas é só a tralha dos filhos, muito velhinho, muita gente que não sabe o que está fazendo nem no planeta Terra, que dirá no Záffari do shopping Bourbon num domingo a noite.

Casal quer queijo. Pensa que há bandejinhas pré-fatiadas? Claro que não. Há uma fila quilométrica num balcão de frios pilotado por três atendentes que, tomando conta juntos de uma tartaruga, deixariam a bichinha fugir. E há muitas velhinhas.

As velhinhas da fila dos frios são um caso que merece estudo. Esta é, de longe, a parte preferida delas no mercado inteiro. Elas pedem quilos e quilos de frios estranhos (presunto e queijo é para os fracos), perguntam detalhes de cada uma das 13 marcas de salame e mandam o peito de peru voltar três vezes porque as fatias não estão na espessura certa. É quase um hobby para elas - algumas jogam tranca, outras infernizam atendentes na fiambreria do Záffari. As velhinhas compram tantos frios que fazem a gente se perguntar se por acaso estaríamos na iminência de um ataque nuclear e só elas foram avisadas. Por essas vocês já imaginam nosso desgosto ao dar de cara com uma fila digna de brinquedo da Disney cheia de senhoras.

Acontece que a fila dos frios não é composta apenas pelas velhinhas. Ela também atrai bastante aquele pessoal citado lá em cima que passa pela vida como se tivesse acabado de cair de um disco voador a caminho de Saturno. É justamente esse povo que chega no balcão após passar quase meia hora esperando e... não tem a menor ideia do que quer comprar. Você está lá atrás, morrendo de fome, cogitando abrir um polenguinho que está dando sopa quando vê o cidadão ali, olhando para a cara do atendente como se de lá pudesse surgir alguma inspiração divina que dissesse quais frios, afinal, ele deve comprar. Porque vejam, meia hora não é tempo suficiente diante do mundo maravilhoso dos salames, queijos gordos e lombinhos defumados que se apresenta diante do pobre incauto. E quando este, após minutos de seríssima ponderação, resolve quer vai levar o presunto, eis que o atendente põe tudo a perder: "Sadia ou Perdigão, senhor?" Nesse momento duas pessoas se matam na fila. Enquanto isso nós, que queremos só 200 gramas de queijo prato, somos obrigados a esperar até criar raízes ao lado de um gorgonzola gigante.

Sendo então essa sucursal do inferno já descrita, a fila dos frios não se contenta e nos apresenta outro tipo que testa nosso amor ao próximo - o cara-que-compra-frios-por-fatia. Vejam bem, coleguinhas - talvez eu até compreenda que você compre frios por fatia se for pobre ou morar sozinho. Não é este, obviamente, o caso do cara que pede 25 fatias de mussarela. Eu disse 25. Para aquele atendente que faz o Patrick do Bob Esponja parecer um ganhador do Nobel de Física. Vão imaginando o drama. Quando o segundo cara-que-compra-frios-por-fatia encosta no balcão o casal já cogita cometer suicídio à la Didi Mocó ou assassinar alguém. Ao invés disso, entretanto, segue aguardando não-tão-pacientemente-assim sua vez.



Não há amor possível na fila dos frios, coleguinhas. 

Comentários

  1. hahahahahaahahahahha

    hahahahahhahahahahahhaha

    genteeeee.... demorei muito pra entender o que era pedir por fatia, afinal, quem faz isso, Jezuyyzzz?

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  2. Hahaha Luana, os clientes do Záffari fazem.

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