O mistério do 875-C

Eu moro na Lapa e dou aula diariamente na Faria Lima, o que significa que o 875-C, também conhecido como Lapa-Metrô Santa Cruz pelos não íntimos é meu companheiro de todas as manhãs. Eu gostaria menos dele se o pegasse no meio do caminho, porque ô ônibus para ficar cheio, mas como pego no ponto inicial vou sentada tranquilinha ouvindo minha música ou terminando o último livro da trilogia Millenium (um beijo literatura recreativa), então tudo bem.

Mas tem uma coisa que me intriga no 875-C, e são seus passageiros. Porque seus passageiros tem uma atração especial pela porta de saída do mesmo. Isso não é novidade, pensarão vocês, afinal, usuários de transporte público parecem mesmo se sentir compelidos a se instalar nos lugares onde causarão o maior transtorno possível, mas no caso do 875-C a coisa tomou proporções assustadoras. A ponto de o coletivo estar completamente vazio (com assentos disponíveis, inclusive) enquanto a galera se espreme de pé lá no fundo, mesmo que vá descer muitos pontos adiante.

Eu lhes pergunto, coleguinhas: por que? O que leva aquelas pessoas a rodear e se agarrar à porta de saída como se ela fosse uma tábua de salvação? Como se ela fosse a garantia deles para o reino dos céus?

Eu pensei em uma explicação possível. Eles tem medo de perder o ponto. Mais do que medo, eles tem uma verdadeira fobia de não conseguir desembarcar e serem condenados a passar toda a eternidade fazendo o trajeto Lapa-Metrô Santa Cruz. Aquele velhinho que senta no fundo do ônibus das 7 todo dia, por exemplo, perdeu o ponto na Joaquim Floriano em 1983 e hoje mora ali naquela assento. A família procura por ele até hoje e nem desconfia que ele foi tragado pelo 875-C. Milhares de paulistanos dados como desaparecidos nos últimos anos na verdade apenas não conseguiram descer do ônibus no ponto certo.

Só pode ser, gente.

Comentários

  1. hahahahahaha

    So pode ser!!! E eles so podem sair de la em dias de virada cultural, pra ver o show do Racionais...

    hahahahaha

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