Sobre Machado de Assis

Oi coleguinhas, tudo bem? No episódio de hoje de "Tia Paula comenta as polêmicas nas redes sociais" temos a escritora que teve a brilhante ideia de simplificar os livros de Machado de Assis para deixá-los ~mais acessíveis~ aos xófens. Uma pegada meio "vocês são todos burrinhos mesmo, então deixa a tia dar aquela mastigada no Machadão para vocês." Sobre isso eu poderia escrever um texto enorme, mas vou resumir minha opinião em um tuíte:




Como esse blog é diarinho, o comentário é só esse mesmo. Essa introdução toda foi só para contar para vocês a minha historinha traumática de clássico mal trabalhado em sala de aula (que tanto não me traumatizou que eu fui para a faculdade de Letras).

1992. Menina Paula estava na oitava série de um colégio público na vila Mariana, em São Paulo. O tema do semestre em Língua Portuguesa (só chamava Literatura a partir do ensino médio) era o Romantismo, e que maneira melhor de trabalhar isso em sala do que fazer os alunos lerem os livros e depois apresentarem seminários a respeito de histórias que eles não entenderam?

Professora dividiu a sala em grupos, atribuiu um livro para cada um e especificou que os seminários tinham que ser ~criativos~. Meu grupo ficou com Inocência, do Visconde de Taunay. Nunca ouviu falar? Imagina a gente, na oitava série e sem internet.

As meninas riquinhas filmaram em VHS uma versão reduzida de Senhora na beira da piscina do prédio com as roupas da avó. Outra turma fez um Guarani anos 90, com Ceci de camiseta do Nirvana e brigas de gangue. Eu, já dando sinais da brilhante carreira que teria na dramaturgia, escrevi um roteiro que contava com o Gil Gomes anunciando a prisão do jagunço *SPOILER ALERT* que, no final do livro, mata o médico que era o amor da Inocência. Como meu grupo só tinha meninas e a única personagem feminina morre de desgosto, todas tiveram que se vestir de homem e eu, além de roteirista, tive que fazer o papel do botânico alemão que era apaixonado pela Inocência - subi no palco de bermudinha cáqui, rede de caçar borboletas (onde arrumamos uma gente, onde?) e sotaque. A imitação de Gil Gomes da minha colega merecia um Tony. Tiramos 10.

Lembro do livro até hoje. Aprendi sobre o Romantismo? Não. A abordagem está toda errada? Claro que sim, mas o buraco é beeeem mais embaixo. E reescrever Machado de Assis trocando sagacidade por esperteza não vai resolver o problema.

Comentários

  1. Quando eu li a noticia hoje de manha eu achei que era piada. Nao era... Caiu uma lagrima.

    Nao eh Gil Vicente, ne? Nao eh galego português... Eh Machado! Eh livro de ontem!

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  2. HAHAHAHAHAHAH

    Apenas morrendo de rir porque eu também interpretei o alemão de Inocência, também arrumamos uma rede (Gente, também não faço ideia de onde) e também imitei um sotaque para a atuação digna de um Framboesa de Ouro. Mas o nosso foi uma versão de Você Decide, onde as pessoas podiam escolher entre um final de "cortar o coração" (Inocência morre apunhalada) ou de "tirar o fôlego" (Inocência morre asfixiada). Agora estou em dúvida se esse Você Decide foi mesmo o trabalho de Inocência ou de algum outro clássico porque, né, todos eram desse naipe.

    Tô por fora dessa polêmica da reescrita dos clássicos.

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    1. Oi, Paula, descobri seu blog num tweet do Felipe. Estou adorando.

      Eu e Felipe éramos do mesmo grupo. Entao, Felipe, o trabalho era Inocência mesmo. Como vc pode esquecer? MELHOR TRABALHO! Mas, não lembro da rede. Mas no final de cortar o coração, ela SE apunhalava com uma caneta (não tínhamos faca no dia, hehe). Sdds...

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  3. HAHAHAHAHAHAHAHA Felipe, morri agora.

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