Sobre a escrita

Hoje, na terapia, eu falei muito sobre escrever.
Eu sempre quis escrever. Desde que me lembro, desde sempre, quando alguém me perguntava o que eu queria ser quando eu crescesse, eu respondia: escritora.
Eu escrevia e ilustrava meus próprios livros em folhas de caderno quando era criança. Eu as dobrava no meio e grampeava, inventei até um logo de editora para colocar na contracapa.
Eu não me tornei escritora dessas que vivem das palavras porque a vida tem dessas, a gente se distrai no meio do caminho e quando vê já está com o tempo totalmente tomado por outras coisas, mas hoje, na terapia, eu percebi que eu nunca deixei de ser escritora. Que eu tenho isso dentro de mim. Fui conversando e lembrando de eventos das últimas semanas que me deram de uma vez por todas a certeza disso.

O primeiro foi assistir a O Grande Hotel Budapeste. Nele, um dos personagens diz que, ao contrário do que todos acreditam, escritores não criam histórias. As histórias sempre existiram e, de alguma forma, elas dão um jeito de encontrar o escritor.

Depois, pesquisando sobre Game of Thrones e sobre o autor, George R. R. Martin, li que ele teve toda a ideia da saga a partir de uma "visão" da cena da ninhada de lobos que é encontrada na floresta, bem no início do primeiro livro.

Por último veio uma palestra da Elizabeth Gilbert, autora de Comer, Rezar e Amar, na qual ela conta como conseguiu superar a pressão de ter que continuar escrevendo depois do maior sucesso de sua carreira. Ela decidiu se voltar aos gregos e aos romanos, que não encaravam a criatividade como algo inerente ao ser humano. Eles acreditavam que ela se originava de algum espírito, alguma divindade que, por uma razão qualquer decidia se manifestar para alguém. Os romanos chamavam esta criatura de "gênio", e diziam que ela vivia literalmente nas paredes dos estúdios dos artistas. Ela encerra a palestra com as palavras que eu traduzi aqui por minha conta:

"...não tenha medo. Não se intimide. Só faça seu trabalho. Continue aparecendo para fazer a sua parte não importa qual ela seja. Se seu trabalho é dançar, dance. Se o geniozinho divido designado para o seu caso decidir que algo maravilhoso será percebido de alguma forma por conta dos seus esforços, então 'Olé'! E se não, dance do mesmo jeito. E 'Olé!' para você mesmo assim. Eu acredito nisso e acho que nós devemos ensinar isso. 'Olé!' para você mesmo assim, só por ter o amor puro e humano e a teimosia de continuar dançando." 

Enfim. Dia desse seu sonhei com uma personagem. Não tinha história nenhuma no sonho, só a personagem. E percebi que meu geniozinho estava me cutucando. Na verdade lembrei que ele nunca deixou de me cutucar. Que ele vive aqui, sentado no meu ombro, mas tem uma ~dona~ meio preguiçosa e procrastinadora, com uma certa dificuldade em tocar seus projetos pra frente. Talvez meu geniozinho nunca venha a me considerar merecedora de grandes obras, mas eu sei que ele existe, e em honra a ele e a mim mesma, eu vou continuar escrevendo. Olé pra mim.

P.S.: Quem quiser ver a palestra da Elizabeth Gilber, tá aqui: https://www.ted.com/talks/elizabeth_gilbert_on_genius. Tem legendas em português. Recomendo muito.

Comentários

  1. Eu leio os posts e salvo os links para comentar. Acaba passando uma eternidade até chegar esse depois, mas chega.

    Que legal que você escreve! Eu meio que embarquei nessa também. Acho que a dica principal é essa mesmo: sente e escreva, com ou sem inspiração/gênio/whatever.

    Sobre a questão do tempo, há um provérbio chinês que diz "Quando queremos, conseguimos" (Mentira, não é um provérbio). A gente arruma nosso tempo, depende da prioridade que a gente arruma pra isso. Eu comecei uma história há muuuuito tempo, mas o troço só engatou mesmo quando eu decidi levar a sério, quando eu decidi separar um tempo diário pra escrever, 1 hora, meia hora, o que der. Mas com foco. Tô me desdobrando pra conseguir esse tempo, me desdobrando MESMO. Nunca tive tanta vontade em terminar essa história como agora e realmente acho que VOU terminar. Meu gênio que me aguente.

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