Causos de carnaval

Eu tenho cá comigo que certas coisas que a gente faz na vida a gente não pode jamais contar para os filhos, só para os netos. E grande parte destas coisas a gente faz no carnaval. Como é grande a chance de eu não ter filhos, quem dirá netos, vou contar algumas aqui mesmo. As que envolvem minha pessoa estarão devidamente identificadas. As que envolvem terceiros eu deixo anonimato porque né, vai que eles resolvem ter filhos?

Teve o carnaval de Caxambu, em 2003, eu acho. Juntamos 15 pessoas numa casa que tinha UM banheiro. Nunca aquelas havaianas plataforma horrendas foram tão cobiçadas na hora do banho.

Eu disse que a casa ficava na rua Amâncio Pinto? A casa ficava na rua Amâncio Pinto. Google Maps tá aqui pra provar que esta coincidência é real:



Mas Paula, afinal de contas o que vocês foram fazer num carnaval numa cidade conhecida pelas águas termais e, consequentemente, pela idade avançada dos turistas que a frequentam? Não sei, só sei que no começo dos anos 2000, por algum motivo que eu desconheço, era cool passar o carnaval em qualquer buraco do interior de Minas Gerais.

Teve bloco com dança da manivela, melô do morto muito louco e onda, olha a onda o dia inteiro? Teve. Teve capeta na barraquinha 10 horas da manhã? Opa, claro que teve. Teve gente dormindo embaixo da mesa da sala? Teve. Teve cinco amontoados numa cama de casal? Teve. Teve migo misturando anti-inflamatório com álcool pra ver se dava barato? Teve. Teve miga que fumou maconha pela primeira vez na vida e viu até disco voador? Ôôô se teve.

A gente achou que nada na vida poderia ser mais épico que Caxambu 2003. Mas aí veio Ouro Preto 2004.

Ouro Preto 2004 éramos 7 meninas num quarto na República Notre Dame. Cerveja e almoço inclusos. Banheiro limpo também. Bloco todo dia, álcool non-stop e toda aquela inconsequência que a gente só tem aos 20 anos mesmo. Uma de nós, ao receber um jato de lança perfume na barra do abadá, levantou o mesmo para cheirá-lo e sim, ficou de peito de fora no meio do bloco do caixão. Eu, desesperada para fazer xixi, tentei entrar em uma república de meninas no centro. Fui vetada e saí xingando. Cinco passos pra frente encontro um coleguinha hospedado no centro e peço "posso usar o banheiro da sua república?" Ele topa. Adivinhem em qual república ele estava hospedado? Sim, a da menina que eu tinha xingado. Vetada novamente e em pânico, não me resta alternativa - fui subindo a ladeira e fazendo xixi nas pernas (estava de saia) e limpando com uma garrafa de água. Me orgulho? Não me orgulho. Mas fiz e tô aqui confessando.

Nesse mesmo dia cansei antes de todo mundo e voltei pra casa com uma das meninas. Chegando lá, a chave do quarto tinha ficado no bloco. Quarto no primeiro andar, toca subir uma escadinha de madeira para entrar pela janela enquanto a amiga vigiava embaixo pra nenhum ómi aparecer pois, lembrem-se, eu estava de saia.

Um dia uma menina sumiu. Foi vista bem louca tentando subir no caixão que desfilava no meio do bloco e depois nunca mais. Foi todo mundo voltando pra casa achando que ela estava com alguém e de repente estávamos todas lá menos ela. Bateu aquele desespero de "deixamos a menina muito bêbada sozinha no bloco" e estávamos nos organizando para voltar ao centro e resgatá-la quando ela aparece com chifres diabinho e batucando um tamborim roubado. Aparentemente intacta (e esperamos sinceramente que sim).

Já faz 12 anos que isso aconteceu. Hoje em dia eu obviamente não tenho mais saúde nem paciência para um rolê desse tipo mas se você é xófem, olha: recomendo. Use camisinha, tente não beber demais, não se aproveite das meninas, não seja babaca, não use drogas e vai com fé. Carnaval é uma fábrica de histórias maravilhosas.

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