Gaslighting

Em poucas palavras, gaslighting é uma tipo de manipulação psicológica e emocional na qual o manipulador utiliza artifícios para fazer a vítima acreditar que ela é desequilibrada, questionando sua própria memória, percepção e até sanidade. O nome se origina de uma peça de 1938 e um filme posterior chamados Gas Light. Neles, uma marido tenta convencer a esposa e as pessoas ao redor deles de que ela é louca. Ele faz isso manipulando elementos do ambiente em volta deles e insistindo que ela está imaginando coisas ao apontar estas mudanças.

Eu vim aqui hoje para contar a minha história de gaslighting, que não daria um filme mas que certamente é muito parecida com várias outras histórias que até hoje não tinham nome.

Começou com uma discussão que eu tive uma vez com a minha mãe porque não queria fazer uma viagem com ela num feriado qualquer. Fiquei bem irritada com a briga e, ao desabafar com meu ex, usei as seguintes palavras:

"E o pior é que ela acha que você quer ir e que eu sou a víbora manipuladora que estou te convencendo a não ir."

Pois o "víbora manipuladora" passou a fazer parte do que eu achava que eram piadas internas de casal, mas que hoje eu vejo que eram gaslighting purinho.

A gente não brigava nunca, eu e meu ex. E não é porque nunca discordássemos ou ficássemos com raiva um do outro. Era simplesmente porque eu não podia demostrar insatisfação. Ao menor protesto meu em relação a qualquer coisa a reação imediata dele era: "Você tem certeza que quer discutir por causa disso? Porque eu faço tudo por essa relação e você sempre quer tudo do seu jeito." Porque afinal de contas, eu era a "víbora manipuladora."

Spoiler: era tudo sempre do jeito dele.

Eu passei anos achando que eu era a desequilibrada, a que chorava a toa, a que puxava briga por besteira, mas adivinhem: não era besteira. Mas ele, dentro daquele personagem que era um poço de equilíbrio e de racionalidade, me fazia acreditar que era errado discutir. E que eu não tinha direito de impor nada porque ele sempre fazia tudo do meu jeito, coitado. Era um pau mandado.

Cês já sabem né? Não era.

Ele fazia o que queria. Na hora que queria. Quando queria. Várias vezes sem me consultar. Mas aaaah, eu não podia reclamar porque ele era um namorado bom, né? Atencioso. Me dava presentes. Era legal com minha família e com meus amigos. Ajudava nas tarefas de casa.


Ano passado ele se inscreveu para a Bravus Race. Ele nem queria ir, mas um amigo insistiu e ele topou. A corrida era no dia que eu tinha marcado para comemorar meu aniversário, um domingo na hora do almoço. Até então ok, corrida é cedo, ele vai, volta, dá tempo. Só que um dia, numa mesa de bar, o amigo dele me disse que a Bravus sai por baterias e a deles era as 11 da manhã.

E aí eu questionei. Porque era uma corrida da qual ele nem queria participar no mesmo horário da comemoração do meu aniversário.

Um tempo depois ele me jogou na cara que naquele dia eu estava bêbada e dei barraco na frente dos amigos dele na mesa do bar. Eu sinceramente não lembrava disso, mas fiquei com aquilo na cabeça afinal de contas esse era um jeito recorrente dele se referir a mim quando eu bebia: eu era a "bêbada barraqueira" e é bem fácil você acusar uma pessoa bêbada de qualquer coisa porque né? Talvez ela não lembre.

Parênteses: eu não sou alcoólatra, beijos. Tomo minha cervejinha e fico bêbada sim de fim de semana, menos que ele, inclusive, que já fez bastante merda bêbado.

Depois que nós terminamos eu comecei a repassar essas histórias na minha cabeça e perguntei para uma amiga que estava no bar naquele dia se ela se lembrava da discussão. Ela disse que eu tinha sido incisiva no quanto não tinha gostado de saber do horário da corrida, mas não classificaria aquele diálogo como "barraco".

Mas ele era o moço bom, né? O correto, o que faz tudo por todo mundo. Imagina se os amigos dele desconfiam que ele por um instante está fazendo alguma coisa que só interessa a ele e que vai sim me deixar chateada. Melhor me fazer acreditar que eu dou barraco sem motivo, coitado.

É aquela velha história né. Hoje eu sou a ex louca dele. Se seu boy tem uma ex louca, melhor ficar atenta. A próxima ex louca pode ser você.

Comentários

  1. Fico feliz por você estar revendo a sua história e prosseguindo, aprendendo com os erros, só não repita nunca. Um relacionamento tem que ser bom para os dois.

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas