"Ninguém vai te amar como eu te amo."

"Eu tenho 37 anos. E se ele for minha última chance de ter um filho?" Ela disse aos prantos sentada na minha sala num fim de sexta-feira.

Ela é uma mulher de 37 anos bonita, saudável, independente, viajada, financeiramente estável. 

Ele é um cara da mesma idade desempregado que mora com os pais e tinha acabado de arrumar uma briga absurda com ela num bar porque "ela o deixa inseguro". 

Tudo bem estar desempregado (em 2018 quem não está?)

Tudo bem morar com os pais (em 2018 quem consegue pagar aluguel em São Paulo?)

Não está tudo bem uma mulher de 37 anos achar que esse cara é sua última chance de ser mãe.

Não está tudo bem uma mulher de 37 anos achar que a única coisa que vai dar sentido na vida dela é casar e ter filhos.

Não está tudo bem uma mulher de 37 anos achar que a vida amorosa dela acabou e que se não for com aquele cara não vai ser com mais ninguém. E é aí que o ciclo do abuso faz todo sentido. 

O cara arruma brigas pelos motivos mais imbecis. Ela termina com ele porque né, não precisa disso. Ele a procura com presentes caros, promessas de amor eterno e o famigerado "ninguém vai te amar como eu te amo."

"Ninguém vai te amar como eu te amo."

Isso não é promessa.

Isso não é romântico.

Isso é dizer "você não é digna do amor de ninguém, só do meu que sou um bosta mesmo."

Que merda de sociedade é essa que faz uma mulher acreditar que se ela estiver solteira e sem filhos aos 37 anos ela fracassou e vai ter que aceitar as migalhas do primeiro zé-ruela que aparecer? 

Eu estou em um relacionamento hoje. Estou feliz e apaixonada, mas ciente de que se em algum momento não der certo eu vou chorar, me embebedar, maratonar Parks and Recreation e no final vida que segue. Eu atribuo essa minha tranquilidade a exemplos de mulheres solteiras e independentes que tive à minha volta desde criança entre tias, vizinhas, amigas da minha mãe. E tenho um baita orgulho de poder ser esta mulher para as minhas sobrinhas agora. 

Cada um tem sua história e sua trajetória. O que a gente não pode é se afundar nessa ideia de que só há um jeito de ser feliz, porque gente, há milhares. E é nessa obrigação de se encaixar nos padrões que mulheres incríveis caem nas maiores roubadas. 

Não caia numa roubada, amiga. Você pode ser feliz e realizada trocando fraldas, casando na igreja ou fazendo intercâmbio no Canadá aos 50 anos de idade. Só não pode achar que o único caminho é aquele macho mais ou menos que só te dá dor de cabeça.


Comentários

  1. Forte !!!! Não apenas macho mais ou menos como amigos e familiares mais ou menos também. Ás vezes as maçãs mais podres vem da família. Infelizmente eu descobri de um jeito muito doloroso que não é só o amor romântico que machuca.

    beijos!

    www.vivendolaforanoseua.blogspot.com

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