A camisa

Era uma camisa polo masculina verde clara muito feia. E estava na minha gaveta de camisetas. Eu apenas assumi que ela um dia tinha pertencido ao falecido e vindo sem querer na mudança embora eu não me lembre de tê-lo visto usando uma camisa polo verde clara. A camisa foi ficando ali, jogada em uma gaveta meio vazia, até que a empregada resolveu arrumar minhas roupas do jeito dela e a pendurou junto com meus vestidos. E meu namorado viu.

"E essa camisa verde aí?" 

Eu inocentemente, respondi:

"Ah, acho que era do Diego."

E obviamente o caos se instaurou naquele quarto. Já tinha acontecido uma conversa estranha sobre isso quando ele me perguntou sobre uma pedra diferentona que fica na minha estante e eu disse que o Diego tinha trazido pra mim do Nepal. Ele fechou a cara, e eu expliquei:

"Eu fiquei com ele nove anos. Você goste ou não, tem um monte de objetos aqui que ele me deu e eu não sou obrigada a me desfazer das minhas coisas só porque você não gosta delas." Mas eram as minhas coisas. Uma camisa dele, isso é muito diferente. Só que eu não entendia que era diferente. 

Um relacionamento ruim acaba e depois do luto a gente acha que está pronto pra seguir em frente. Mas às vezes não está. Eu levei essa briga por causa da camisa para a terapia e finalmente comecei a entender que eu ainda sei não direito o que é um relacionamento saudável porque durante nove anos eu não tive um. Eu não entendi de cara porque aquela camisa era um problema porque no meu relacionamento anterior era proibido brigar, reclamar, sentir ciúme, mostrar insatisfação. Isso era coisa de casal mal resolvido e nós? NÓS NÃO ÉRAMOS COMO OS OUTROS CASAIS. Eu sei exatamente o que não é aceitável em um relacionamento mas eu não sei o que é aceitável. 

Cheguei à conclusão de que é aceitável que ele fique chateado e discuta comigo civilizadamente ao ver uma camiseta do meu ex pendurada no meu armário. E achei justo que eu me livrasse daquela camiseta porque ela não representa mais absolutamente nada pra mim. 




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