Carol

Eu tenho essa turma de crianças (me recuso a dizer pré-adolescentes) as terças e quintas a tarde. Seis meninas, entre 9 e 11 anos.
Idade complicada essa. Algumas já começam a dar sinais da adolescência chegando, outras ainda magrelinhas, criançonas com caderno das Princesas Disney. Been there, done that. E entre elas há a Carol.
A Carol tem uns 11 anos e é diferente. Ela toca violino, frequenta o grupo de escoteiros e não vai à aula de shortinho e  Melissa cor-de-rosa brilhante. E a Carol é meio desajeitada, chega atrasada e esbaforida toda aula e, para compensar essa falta de traquejo, fala pelos cotovelos para ninguém perceber o quanto é desconfortável para ela estar ali. 
Ontem chegou atrasada, como sempre, e com isso atraiu os olhares das outras para ela. Estava usando um vestido bege de malha até os joelhos, um par de tênis pretos e meia cinzas. A Carol é claramente uma menina que não tem muita noção das coisas que veste mas também não se importa com isso. As meninas de shortinho e Melissa cor-de-rosa brilhante não perdoaram:

"Porque você colocou esse tênis com esse vestido?" Ao que Carol, respondeu, laconicamente:

"Porque eu não podia vir à aula descalça, ué?"

Eu sou a Carol. Quer dizer, eu fui a Carol. Eu fui aquela menina esquisita, muito magrela, descabelada e de roupas estranhas que não se dava muito bem com o resto da sala. Eu fui aquela com quem ninguém queria fazer grupo. E eu tento o tempo todo colocar panos quentes e evitar que a Carol passe pelas coisas que eu passei, confesso, dou um jeito de ela ganhar as competições (mas ela ganharia de qualquer maneira, é inteligente a danada) e escrevo bilhetinhos de apoio na lição de casa dela. Ela as vezes fica de lado e vai embora triste, e tenho vontade de dizer que vai passar. Que não vai ser sempre assim. Não vai ser perfeito, nunca vai, mas vai ser melhor. 

Vai ser melhor, Carol, eu prometo. 

Comentários

  1. Chorei, Paulinha. A Carol não sabe, mas ela será uma mulher linda, talentosíssima e que viverá com os pés no chão. E será muito feliz. E eu te admiro muito por tentar fazê-la ver o lado bom, mesmo que tão cedo.
    Saudades de ti, viu...

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  2. Chorei, Paula (2)

    Também fui a Carol em determinados aspectos. Estou estagiando (só observação ainda) numa escola e quando vejo as meninas de cabelão, maquiagem e unhas compridas, lembro de tanta, tanta coisa...

    Aliás, que telepatinha. O post mais recente do meu blog fala disso também e tem a frase "vai passar".

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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  4. E eu tb fui uma Carol.Literalmente.E achei demais tua disposição em fazer isso numa fase que crianças sao cruéis, que elas andam adultinhas cada vez mais cedo.

    E passa.E como é bom rir das patetas que diziam as crueldades.Com certeza não tem metade do talento que Carol tem.

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